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Ganho de peso no tratamento do HIV: o que é normal e o que é prejudicial?

O ganho de peso em pessoas com HIV em tratamento antirretroviral pode refletir um retorno a um peso que é normal na sociedade em geral, mas médicos devem estar atentos aos casos mais extremos, pois essas pessoas são mais propensas a sofrer de complicações relacionadas ao peso no futuro. Essa foi a afirmação do professor Andrew Carr, do St. Vincent’s Hospital, de Sydney, no Congresso HIV Glasgow 2020, realizado entre 05 e 08 de outubro.

O ganho de peso durante o tratamento do HIV se tornou uma preocupação para as pessoas vivendo com HIV e seus médicos. Ensaios clínicos e estudos de coorte mostraram taxas variáveis ​​de ganho de peso em pessoas que tomam inibidores da integrase, especialmente junto com tenofovir alafenamida (TAF). Em contraste, há alguma evidência de que tenofovir disoproxil fumarato (TDF) e efavirenz inibam o ganho de peso.

Estudos populacionais gerais mostram que um aumento de 5kg/m2 no índice de massa corporal aumenta significativamente o risco de morte. Mesmo um aumento que coloque uma pessoa na categoria de excesso de peso (IMC 25-29,9) pode ser suficiente para aumentar substancialmente o risco de morte. “Não há razão biológica para acreditar que a obesidade em adultos vivendo com HIV não terá o mesmo risco que na população em geral”, disse Carr.

Ao longo de 13 anos, a Global BMI Mortality Collaboration descobriu que o risco aumentado de morte com pesos mais elevados era maior nos homens. O ganho de peso substancial antes dos 50 anos aumentou o risco em 52%.

A obesidade aumenta o risco de doenças não transmissíveis, principalmente diabetes, doenças cardiovasculares, doenças renais crônicas e câncer. Globalmente, as mortes relacionadas a essas causas aumentaram em 20-30% entre 2007 e 2017. Mortes associadas a doenças não transmissíveis são maiores nos países de baixa renda.

No entanto, em seu discurso na abertura do HIV Glasgow 2020, Carr pediu cautela sobre as mudanças na gordura corporal, apontando que os adultos jovens HIV-negativos ganham até 1kg por ano nos Estados Unidos. Tanto a coorte Kaiser Permanente quanto o estudo ADVANCE na África do Sul relataram que, ao longo dos anos, as pessoas com HIV em tratamento antirretroviral ganham peso – mas o ganho de peso apenas as leva de volta à norma social.

No estudo ADVANCE, que comparou duas combinações à base de dolutegravir com o tratamento à base de efavirenz, os participantes que receberam dolutegravir ganharam peso, especialmente se também receberam TAF. Mas a quantidade de peso que ganharam significa que, após dois anos, eles pesavam o mesmo que seus homólogos HIV-negativos, de acordo com resultados de dois estudos populacionais em geral na África do Sul (o estudo NHANES da África do Sul e dados de peso da África do Sul de 2016 relatados pela Organização Mundial de Saúde).

Além disso, vários estudos grandes demonstraram que o ganho de peso médio em pessoas que iniciam o tratamento com inibidores da integrase está de acordo com o ganho de peso médio anual da população. O ganho de peso médio, por outro lado, pode ser muito maior nesses estudos, distorcido por uma minoria que apresenta maior ganho de peso.

Estudos em diferentes populações também observaram grandes diferenças no ganho de peso. Enquanto os participantes dos estudos GEMINI 1 & 2 que receberam dolutegravir ganharam em média 2kg em 96 semanas, os participantes do estudo ADVANCE que receberam o mesmo regime ganharam em média 5kg no mesmo período. Não está claro se essa diferença é causada por outliers (pessoas que apresentam resultados muito diferentes das demais) nas populações ou fatores que afetam a população como um todo, como a dieta.

Mas para atingir um ganho de peso que pode colocá-los em maior risco de morte, as pessoas com HIV na faixa de peso normal precisariam ganhar mais de 15 kg, uma ordem de magnitude maior do que os ganhos de peso vistos na maioria dos ensaios clínicos e estudos de coorte.

Quanto à redução do ganho de peso, “a maneira como você perde gordura é metabolizando a gordura e oxigênio, transformando em gás carbônico e água. Então minha mensagem para os pacientes é: qualquer coisa que os faça respirar mais rápido vai ajudá-los a perder peso. Mandar as pessoas tomarem cuidado com a dieta é uma forma ineficaz de controlá-lo. Em todos os estudos, você perde menos de um quilograma em seis meses.”

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