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Dezembro vermelho – mês de luta contra a Aids

Dezembro é o mês dedicado a falar de prevenção e cuidados em relação ao HIV. De acordo com o boletim epidemiológico divulgado pelo Ministério da Saúde no dia 1º, cerca de 920 mil pessoas vivem com HIV no Brasil. Dessas, 89% foram diagnosticadas, 77% fazem tratamento com antirretroviral e 94% estão em tratamento e não transmitem o HIV por via sexual por terem alcançado carga viral indetectável.

Outros dados informam que a epidemia segue principalmente entre homens homossexuais e bissexuais, grupo que corresponde a mais de 51% dos casos novos de infecção pelo HIV no ano passado. É entre homens jovens, até os 29 anos, que os novos casos mais crescem.

Porém, tudo indica que as campanhas de prevenção devem ser amplificadas e não direcionadas a apenas uma faixa etária. No Distrito Federal, houve um grande aumento nos casos de infecção pelo HIV e diagnóstico de Aids entre 2014 e 2019 na população com mais de 60 anos. Para especialistas, essa população é sexualmente ativa, mas ainda encontra tabus quando o assunto é sexualidade. Desse modo, é necessário falar abertamente com esse grupo.

No que diz respeito à taxa de detecção de HIV em gestantes, em um período de dez anos, houve um aumento de 21,7%: em 2009, registraram-se 2,3 casos/mil nascidos vivos e, em 2019, essa taxa passou para 2,8/mil nascidos vivos. A tendência de aumento se verifica em todas as regiões do Brasil, sendo que as regiões Norte e Nordeste foram as que apresentaram maiores incrementos na taxa, ambos de 83,3% nos últimos dez anos. Em toda a série histórica, a região Sul apresentou as maiores taxas de detecção de HIV em gestantes no país. Em 2019, a taxa observada nessa região foi de 5,6 casos/mil nascidos vivos, duas vezes superior à taxa nacional.

Os números revelam que o Brasil não atingiu a meta 90-90-90 estipulada pelo Unaids – Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids. A meta estabelecia que, até 2020, 90% das pessoas deveriam saber seu estado sorológico, 90% dessas pessoas deveriam estar em tratamento ininterrupto e 90% delas deveriam usufruir de tratamento capaz de fazê-las atingir a carga viral indetectável. Porém, os dados de 2020 demonstram ligeira melhora em relação ao final de 2019, quando se constatou que 81% das pessoas que vivem com HIV sabiam seu status sorológico, e 67% delas estavam em terapia antirretroviral.

José Valdez Madruga, coordenador do Comitê de Aids da Sociedade Brasileira de Infectologia e membro do comitê científico do projeto Saúde Positiva observa que a falta de campanhas informativas focadas na prevenção combinada pode estar entre um dos principais gargalos para que a meta estabelecida pela Unaids ainda não tenha sido cumprida no Brasil.

“As pessoas não têm noção do risco e acabam não fazendo o teste; têm relação desprotegida com um parceiro conhecido [um amigo, um conhecido] e acham que não estão em risco”, destaca. “Hoje temos medicamentos eficazes e protocolos de atendimento que possibilitariam um diagnóstico mais rápido e, por tabela, um tratamento mais efetivo. Se há falha em um ponto, isso acaba falhando nos demais”, pontua.

Além disso, o especialista alerta para o risco em relações monogâmicas.

“Muitas vezes, são relações monogâmicas só de um lado; há muitos casos de pessoas que se contaminaram dessa forma. São casais homossexuais e heterossexuais que até começaram a usar preservativo quando se conheceram e que, à medida que vão aprofundando o afeto, acham que estão protegidos — até o momento em que descobrem que um dos parceiros se contaminou ou a contaminou”, analisa.

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