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Descoberta de proteína abre porta para nova classe de medicamentos anti-HIV

Pesquisadores descobriram um “ponto fraco” da proteína Nef, bastante ativa no vírus HIV e na sua capacidade de desencadear a Aids. A descoberta possibilita a busca de uma nova classe de medicamentos contra o vírus. A forma como Nef consegue “burlar” os mecanismos de defesa das células humanas, permitindo que o HIV avance e reduza o tempo em que os sintomas da doença possam aparecer está ficando cada vez mais clara.

De acordo com Yunan Januário e o professor Luis Lamberti Pinto da Silva, da FMRP-USP (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto), essa descoberta é muito relevante. “Pesquisadores conseguiram obter a estrutura tridimensional entre Nef-CD4 e AP-2. Com isso, é possível ver as superfícies de contato, possibilitando outros estudos que gerem uma molécula para ocupar esse espaço e impeça o avanço dos efeitos da proteína. Essa ‘fotografia’ possibilita a busca de outras terapias anti-HIV”, explica Silva.

Silva se refere à pesquisa que foi publicada Nature Structural & Molecular Biology, cuja primeira autora é a pesquisa Yonghwa Kwon. Segundo Silva, já se sabe que Nef é fundamental para a progressão dos efeitos do HIV no desenvolvimento da Aids. Além disso, a proteína pode continuar sendo produzida pelo organismo de pacientes em tratamento ou cujos níveis de vírus se mantenham abaixo dos detectáveis. E é isso que torna esse achado sobre a proteína tão importante. Ela é relacionada a comorbidades da infecção e, até hoje, não há nenhum medicamento para atacá-la.

Atualmente, os medicamentos antirretrovirais, divididos em classes, agem no sistema imunológico do paciente, bloqueando as diferentes fases do ciclo de multiplicação do HIV, reduzindo a carga viral e até impedindo o desenvolvimento da doença. Porém, a crescente resistência do HIV aos medicamentos atuais e os efeitos colaterais para pacientes têm feito com que cada vez mais se busquem novas formas de combater o vírus.

O grupo do professor Luis Lamberti Silva trabalha em outra pesquisa, também com o apoio da FAPESP, cujo foco é descobrir novos alvos de Nef. “Vários ingredientes estão disponíveis. Agora tem de chegar alguém e costurar tudo isso para obter essa molécula capaz de inibir Nef.” Segundo o Ministério da Saúde, aproximadamente 866 mil brasileiros vivem com HIV. Do total no mundo, 67% tinham acesso à terapia antirretroviral, de acordo com a Unaids.

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