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Por que o aumento dos casos de câncer de boca tem relação com o HPV, uma doença sexualmente transmissível?

*Andrey Soares

A incidência do câncer de boca no Brasil vem aumentando significativamente nos últimos tempos e tem preocupado a classe médica. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA), dos 625 mil novos casos de tumores malignos esperados para 2021, 15.190 deverão ser de câncer de boca e orofaringe. No entanto, o que muita gente não sabe é que a infecção pelo vírus do papiloma humano (HPV) tem ajudado a elevar a ocorrência desse tipo de doença.

O risco de desenvolver esse tipo de tumor maligno entre os jovens cresceu progressivamente nos últimos anos. Em paralelo, transmitido via prática sexual oral sem proteção, o vírus tem acometido um número cada vez maior entre homens e mulheres. Pesquisas mostram que, em média, o ápice da transmissão do vírus ocorre na faixa dos 25 anos, fator relacionado ao câncer que pode ser prevenido a partir da conscientização sobre o assunto de forma ampla e massiva.

O que mais chama a atenção é que a geração de jovens e adultos com menos de 40 anos hoje preza e valoriza muito a liberdade sexual. Até aí, tudo bem. O grande problema é que, apesar de ser bem-informada e consciente dos riscos envolvendo doenças sexualmente transmissíveis, ainda há índices elevados de contágio pelo HPV.

Além da importância de se trabalhar a conscientização – enfatizando a importância do uso de preservativo durante as relações sexuais – hoje existem vacinas que reduzem o risco de infecção por determinados tipos de papiloma humano. Inicialmente, esses imunizantes eram utilizados para reduzir o risco da ocorrência de câncer de colo de útero, um dos mais incidentes entre as mulheres. Mas estudos têm mostrado que eles também ajudam a diminuir o risco de outros tumores ligados ao HPV, como o câncer de ânus, vulva, vagina, boca e garganta.

No entanto é importante que a vacina seja aplicada em uma idade precoce, antes que a pessoa se torne sexualmente ativa. Nesse sentido, já temos avanços positivos. A vacina contra o HPV está disponível gratuitamente nos postos de saúde pelo Brasil para meninas entre 9 e 14 anos e meninos entre 11 e 14 anos. Os portadores de HIV tem uma faixa mais ampla, dos 9 aos 26 anos. No serviço privado, quando recomendado pelo seu médico, a faixa aprovada pela ANVISA é dos 9 aos 45 anos para mulheres e dos 9 aos 26 anos para os homens.

Para tomar a vacina, não há restrições para pessoas com vida sexual ativa, mas a eficácia da vacina pode ser diminuída, já que nestas situações há possibilidade de já ter havido contato com o vírus. As demais faixas etárias têm acesso ao imunizante via rede de laboratórios particulares.

Além do HPV, outro ponto que preocupa é o consumo excessivo de tabaco e álcool. Separados ou combinados, eles também contribuem para os riscos de desenvolver câncer de boca e garganta. Um dado alarmante é que o câncer de cabeça e pescoço apresenta maior incidência entre os jovens, e pouco mais de um terço é causado por maus hábitos. O principal e mais importante deles que deve ser combatido é o tabagismo.

A grande questão é que, antigamente, o hábito de fumar era sinônimo de elegância e glamour, o que estimulava esse costume entre as pessoas mais jovens. Infelizmente, o uso frequente do cigarro também é responsável pelo aparecimento do tumor na cabeça e pescoço. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 90% dos pacientes diagnosticados com câncer de boca eram tabagistas.

O uso do tabaco, acompanhado de bebidas alcoólicas, é uma combinação explosiva para a ocorrência de câncer de cabeça e pescoço. O álcool pode agir como um solvente e facilitar a penetração de carcinógenos nos tecidos, além de aumentar o índice de quebras no material genético e a peroxidação de lipídios – e, consequentemente, a produção de radicais livres, responsáveis por prevenir o envelhecimento.

Como é possível identificar se uma pessoa está com câncer de boca ou orofaríngeo? Um dos primeiros sinais são o aparecimento de feridas na boca que não cicatrizam, ou pioram nos primeiros 15 dias, além de nódulos no pescoço. A pessoa pode ainda sentir dificuldade para mastigar ou engolir.

Esses fatores, associados ao surgimento de pequenas verrugas na garganta ou na boca, podem revelar um possível diagnóstico. Outros sintomas que podem aparecer ainda são rouquidão persistente, manchas ou placas vermelhas ou esbranquiçadas na língua, gengivas, céu da boca e bochechas, assim como lesões na cavidade oral e nos lábios.

Por isso, mais do que nunca, é fundamental investir em uma campanha massiva de conscientização sobre a importância da prevenção durante as relações sexuais. Sem a proteção, o prejuízo pode ser grande no futuro. Cuidem-se!

*Andrey Soares é oncologista do CPO Oncoclínicas

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