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HIV/AIDS: a incansável luta pelo fim do estigma e desinformação


*Dra. Silvia Regina Julian


Após quase 40 anos do aparecimento dos primeiros casos de AIDS no mundo, os grandes
avanços da medicina transformaram o prognóstico da doença antes considerada fatal para uma
condição crônica e gerenciável. O HIV, vírus da imunodeficiência adquirida, não tem cura, mas
já possui medicações antirretrovirais eficazes e cada vez mais livres de efeitos colaterais, que
possibilitam excelente controle, ao bloquear o vírus impedindo que a doença se manifeste.


O primeiro passo para a luta efetiva contra a desinformação é enfrentar a discriminação
relacionada ao vírus. Falar sobre o assunto, identificar as lacunas no diagnóstico e no tratamento
e dar um fim ao tabu podem livrar o mundo da epidemia que já matou milhares de pessoas.
Atualmente, 38 milhões de pessoas vivem com o vírus no mundo. No Brasil, o número chega a
920 mil, segundo Boletim Epidemiológico de 2020, disponibilizado pelo Ministério da Saúde. Do
total no país, cerca de 642 mil têm carga viral indetectável, ou seja, esse grupo não transmite o
vírus. E essa é uma das informações que grande parte da sociedade ainda desconhece. Não
existe mais falar de “sobrevida”, mas sim “expectativa de vida” que, inclusive, pode ser tão
grande ou maior quanto à de um indivíduo soronegativo.


Sendo assim, na briga contra o estigma é preciso, antes de mais nada, entender que a doença
não é o fim do mundo. Não é uma sentença de morte. Tomando os medicamentos
corretamente, haverá bloqueio do vírus no sangue e, consequentemente, estabilização do
quadro, o que impedirá a transmissão para seu parceiro(a). Já é possível até mesmo engravidar
sem transmitir o vírus para o bebê! Para isso, é necessário que a mulher siga impecavelmente o
tratamento, no intuito de manter o vírus bloqueado, ou seja, a carga viral indetectável, além de
realizar o pré-natal na frequência certa, para garantir a segurança e a saúde do feto.

Porém, mesmo com o avanço da medicina e todo acesso ao conhecimento atual, ainda é
essencial que as pessoas se cuidem, no intuito de frear a contaminação. Para se tornar
soropositivo, basta ter relações sexuais sem preservativo ou colocar o próprio sangue em
contato com o de alguém infectado. Por isso, a prevenção é simples: use preservativo em todas
as formas de relação sexual, não compartilhe instrumentos afiados ou injetáveis – agulhas,
seringas, alicates, lâminas de barbear ou objetos que tenham sangue – e utilize luvas se for
cuidar de feridas de desconhecidos.


Outra medida preventiva é a Profilaxia Pré-Exposição (PREp), que consiste na tomada de
medicamento antiviral para prevenir a entrada do vírus. A PREp é indicada para pessoas mais
vulneráveis, como homens que fazem sexo com homens, mulheres transsexuais, profissionais
do sexo e parceiros de indivíduos HIV+. Também é essencial tratar infecções sexualmente
transmissíveis (ISTs) como a sífilis, por exemplo, uma vez que feridas genitais facilitam a entrada
do vírus.
E, caso haja suspeita de contaminação, o exame laboratorial que detecta a AIDS é a contagem
de células de defesa, chamado CD4. Diante do resultado HIV reagente, é fundamental marcar
uma consulta com o infectologista, que avaliará seu quadro e, então, dará início ao tratamento
diário, que te acompanha ao longo da vida. Estes medicamentos são distribuídos gratuitamente pelo SUS em postos especializados, nas farmácias dos SAEs ou CRs, mesmo para os pacientes que fazem tratamento particular.


No mais, no contexto atual da pandemia da Covid-19, o Programa Conjunto das Nações Unidas
sobre HIV/AIDS (UNAIDS) orienta que todas as pessoas vivendo com HIV procurem seus
profissionais de saúde para garantir estoques adequados de medicamentos essenciais.


*Dra. Silvia Regina Julian, médica formada pela Santa Casa de São Paulo, especializada em
Infectologia pelo Hospital do Servidor Público Estadual, com título de Especialista pela
Sociedade Brasileira de Infectologia, membro da Doctoralia e 25 anos de experiência na área
de HIV-AIDS e Hepatites Virais.

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