“Ter HIV não me impede de ser extraordinário”. A julgar pela capacidade de mobilização e de comunicação do autor desta frase, há de se acreditar que ele é mesmo o que diz ser: extraordinário. Estamos falando do ativista, ator, cantor, diretor e dramaturgo (sentiu o drama?) Gabriel Estrela, de 24 anos.
Com um discurso acessível e que vai direto ao ponto, Gabriel vem se firmando como uma referência no enfrentamento ao HIV/Aids, especialmente entre os mais jovens. Por ser soropositivo, ele fala com autoridade sobre assuntos que vão de medo e preconceito a opções de prevenção e de tratamento.
O principal – mas não único – canal de comunicação de Gabriel Estrela é o <strong><a href=”https://www.facebook.com/projetoboasorte/?fref=ts” target=”_blank”>Projeto Boa Sorte</a></strong>, criado em 2015, pouco após o jovem ativista admitir publicamente que vive com HIV. O projeto tem milhares de seguidores nas redes sociais, entre Facebook, Twitter e Youtube. Nestas mídias, Estrela dá informações pertinentes e detalhadas sobre prevenção, profilaxia e tratamento, sempre deixando claro que a juventude deve ser protagonista de sua própria vida sexual.
“O mais difícil é mostrar para as pessoas que o jovem não é irresponsável. Pelo contrário, ele é preocupado, e quer ser bem informado”, diz Gabriel.
<a href=”http://fundoposithivo.org.br/wp-content/uploads/2016/04/Fundo-GabrielEstrela_JoaoPTeles-2-Siteinterna.jpg”><img class=”size-full wp-image-321″ src=”http://fundoposithivo.org.br/wp-content/uploads/2016/04/Fundo-GabrielEstrela_JoaoPTeles-2-Siteinterna.jpg” alt=”Gabriel fez de sua sorologia o ponto de partida para transformar vidas (Fotos: João P. Teles)” width=”600″ height=”450″ /></a> Gabriel fez de sua sorologia o ponto de partida para transformar vidas (Fotos: João P. Teles)
O artista/ativista vive em Brasília. Além de tocar o Projeto Boa Sorte ao lado do namorado e xará Gabriel, participa de um polo de prevenção e acolhimento na Universidade de Brasília. Ele fala com propriedade sobre o fato de o HIV estar crescendo entre os jovens brasileiros, mas deixa claro que não se deve culpar o avanço das formas de profilaxia e tratamento. Trocando em miúdos: Gabriel fica fulo da vida ao ouvir que esses avanços estão fazendo a juventude abandonar a prevenção.
“Os jovens estão sem medo porque estão mais empoderados, mais conscientes quanto ao sexo, o próprio corpo e as formas de prazer”, afirma. “Vamos acabar com tudo isso por falta de informação?”
Esta informação, segundo Estrela, passa justamente por deixar claro para a galera que o HIV/Aids ainda não tem cura e, sem tratamento, mata. Mas que há diferentes formas de se evitar ou mesmo de se lidar com a infecção. “Se os jovens ainda têm a imagem de que a pessoa com HIV é esquelética e com o corpo coberto de manchas, que conclusão ele chega ao não ver ninguém assim no dia a dia? A de que não existe mais a infecção, o que é um engano. É preciso mostrar que o tratamento evoluiu, mas que a prevenção continua sendo fundamental.”
Para o líder do “Projeto Boa Sorte”, é preciso também abordar outros temas ao falar de prevenção para os jovens. “Ficar martelando sobre a camisinha é cansativo, tem de falar de outras coisas, como o uso de lubrificantes, o tipo de sexo que é praticado… O jovem quer ser livre.”
<strong>História</strong>
Gabriel mal havia saído da adolescência quando descobriu ser soropositivo. Lá se vão cinco anos desde que contou a “bomba” para a família e o então namorado. “Todos me apoiaram, e tenho um médico incrível”. Começou então um período que ele considera “muito tranquilo”. “Os medicamentos funcionaram muito bem, fiz algumas mudanças, mas por opção.”
Não é surpresa que uma pessoa ativa e com tanta facilidade para se comunicar tenha começado a se sentir incomodado com o próprio silêncio a respeito de sua condição sorológica. Em 2013, os ventos da mudança começaram a soprar. “Escrevi o roteiro do musical sobre minha história, embora ainda não tivesse coragem de encená-lo. E comecei a fazer trabalho voluntário com crianças que vivem e convivem com o HIV”, recorda.
Gabriel passou então a refletir cada vez mais sobre como tinha uma boa sorte. Sobre como outros jovens, na mesma situação dele, sofriam com medo da família, o abandono afetivo e eventuais inadequações aos medicamentos. No ano seguinte, encontros com jovens ativistas e a chance de fazer um pequeno esquete do seu musical, agora batizado “Boa Sorte” abriram terreno para que ele se sentisse maduro e confortável para falar abertamente sobre o fato de ser um jovem soropositivo.
“Foi em julho de 2015, com um post no Facebook. Escrevi e fui viajar, esperando todo tipo de reação”, recorda. “E a repercussão foi muito grande, e muito positiva”.
Foi então que começou o “Projeto Boa Sorte”, englobando, além da peça musical, os canais de mídia já citados neste texto. A vida de Gabriel Estrela mudou completamente. “A demanda por respostas sobre o HIV/Aids, pedidos de entrevistas e tudo mais cresceu rapidamente. Precisei largar a faculdade (fazia teatro na UnB) e mal conseguia sair de casa. Entrei completamente no ativismo.”
Além do próprio Gabriel e do namorado, em Brasília, o “Projeto Boa Sorte” conta com uma produtora em São Paulo. Com todo o crescimento, os ativistas começam a estudar transformar o “Boa Sorte” em uma Organização. “Temos um funcionamento muito artesanal, e não queremos perder isso”, pondera.
<strong>Malhação</strong>
Ainda está com alguma dúvida sobre Gabriel Estrela ser, de fato, extraordinário? Pois saiba que ele também é consultor do roteiro da série “Eu Só Quero Amar”, da TV Globo. A trama, ligada à novela “Malhação-Seu Lugar no Mundo”, gira em torno de um casal sorodiferente (quando apenas um é soropositivo), e nasceu fruto de uma parceria entre o Unaids e a Globo.
“Eu Só Quero Amar” vai ao ar todos os sábados, no Gshow, o site de entretenimento da Globo.
<a href=”http://fundoposithivo.org.br/wp-content/uploads/2016/04/Fundo-GabrielEstrela_PedroCarrilhoGShow-Site.jpg”><img class=”size-full wp-image-320″ src=”http://fundoposithivo.org.br/wp-content/uploads/2016/04/Fundo-GabrielEstrela_PedroCarrilhoGShow-Site.jpg” alt=”Gabriel conversa com o elenco de "Malhação" (Foto: Pedro Carrilho/GShow)” width=”600″ height=”450″ /></a> Gabriel conversa com o elenco de “Malhação” (Foto: Pedro Carrilho/GShow)
Gabriel Estrela resume de onde vem tanta energia: “Precisamos alcançar todos os tipos de pessoas, de todas as orientações”, diz. “Eu já passei por várias etapas desde que recebi a notícia de que sou soropositivo, mas não posso me esquecer de que tem gente ainda lá no primeiro passo.”
O Fundo PositHiVo vai ficar sempre de olho nas iniciativas do Gabriel Estrela e do “Projeto Boa Sorte”. E você? Participa ou conhece alguma ação ou Organização que desempenham papel relevante no campo do HIV/Aids e hepatites virais? Conte para a gente e para o nosso público!