Conselho se reúne e divulga nota crítica à revista ‘Época’

Coordenadores e conselheiros do Fundo PositHiVo se reuniram na sede da instituição, em São Paulo, para a periódica troca de informações e atualizações sobre as ações do Fundo.

O grupo aproveitou a ocasião para lamentar recente reportagem da revista “Época” a respeito da Profilaxia Pré-Exposição (PrEP), e redigiu uma nota crítica à publicação. Leia abaixo a íntegra da nota, compartilhada nas redes sociais e enviada à revista.

Em reportagem sobre a PrEP, Época mostra 30 anos de atraso ao abordar HIV/Aids

O Fundo de Sustentabilidade às Organizações da Sociedade Civil que Trabalham no Campo do HIV/Aids e Hepatites Virais – Fundo PositHiVo – vem a público lamentar a publicação da reportagem “O Novo Azulzinho”, na edição de 2 de abril da revista “Época”.

Com o intuito de abordar a Profilaxia Pré-Exposição (PrEP), uma moderna, segura e cientificamente comprovada forma de prevenção à infecção pelo HIV, a reportagem erra em diversos pontos: confunde conceitos, reforça preconceitos e estereótipos e deixa de citar dados relevantes sobre o crescimento do HIV/Aids entre outras populações, como as mulheres e pessoas acima dos 60 anos, por exemplo.

Para quem, como nós, vive há décadas o cotidiano desta infecção e comemora cada avanço como uma conquista de toda a sociedade brasileira, ler tal reportagem gera tristeza e até revolta. É como se fôssemos novamente expostos a preconceitos e estigmas que eram comuns no começo da epidemia, nos anos 80. Não é coincidência o fato de profissionais e organizações sérias, como o Centro de Referência e Treinamento DST/Aids-SP (CRT), a Sociedade Paulista de Infectologia, o Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP) e o médico Rico Vasconcelos (entrevistado para a reportagem!) também tenham assinado notas de repúdio sobre a mesma.

Ao tratar a PrEP como “outra pílula azul”, numa clara referência ao Viagra, e ao dizer que a profilaxia está “fazendo os gays abandonarem a segurança da camisinha”, a reportagem da “Época” utiliza afirmações sem comprovação científica e reforça lamentáveis preconceitos contra a comunidade gay. A reportagem, inclusive, chega a utilizar o termo “grupo de risco”, há muito tempo abandonado por todos que tratam o tema do HIV/Aids com seriedade.

A ideia de que o HIV/Aids ameaça exclusivamente os homens gays ou bissexuais, com vida sexual atribulada, é justamente o que colaborou para que jovens, mulheres e pessoas com 60 anos ou mais deixassem de lado o preservativo. Dados do Ministério da Saúde e do Programa Conjunto das Nações Unidas Para o HIV/Aids (Unaids) mostram o crescimento da infecção entre esses grupos. A “feminilização” da Aids é uma realidade que só pode ser combatida com informações claras e livres de preconceitos e estereótipos.

A reportagem ainda escorrega em inveracidades técnicas, confundindo a Profilaxia Pós-Exposição (PEP) com a Profilaxia Pré-Exposição (PrEP), chegando até indicar o tratamento de maneira errada e irresponsável, colaborando ainda mais para que a população se sinta distante do urgente tema da prevenção combinada. Tampouco há qualquer evidência de que a adesão à PrEP seja responsável pelo aumento de outras infecções sexualmente transmissíveis (IST).

Matérias repletas de informações técnicas de saúde pública deveriam ser revisadas por um médico da área para evitar prejuízo ao leitor da própria revista e à população como um todo.

O acesso à PrEP, garantido pelo Sistema Único de Saúde (SUS) desde 2017, é mais um avanço do Brasil para livrar jovens e adultos de ambos os sexos do risco de infecção pelo HIV/Aids. Reportagens como esta, publicada pela Época, prestam um desserviço a todos que desejam um país mais justo, saudável e livre de preconceitos.

Atenciosamente,

Coordenadores e Conselheiros do Fundo PositHiVo