Fonte: Agência Aids
Na semana em que foi comemorado o Dia Mundial de Combate às Hepatites Virais (terça, 28), muito se falou na coinfecção, especialmente da hepatite C com o HIV. Segundo Érico Arruda, presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) há uma proporção enorme de soropositivos coinfectados também pela B. E um portador de HIV que se infectou pelo uso de drogas injetáveis tem 30% a mais de chances de também estar com hepatite C.
“Um estudo nacional mostrou que 80% dos usuários de drogas injetáveis portadores do HIV têm a hepatite C. Isso significa que 12% das pessoas com HIV no Brasil têm hepatite C. Ele também mostra que 8% têm a hepatite D.”
O vírus da hepatite C causa uma inflamação no fígado – 10 a 20% das pessoas com essa inflamação crônica acabam desenvolvendo cirrose entre 20 a 25 anos, após a infecção pelo vírus. “Depois que a inflamação se torna uma cirrose, ela evolui para a formação de tumores como carcinoma, câncer de fígado ou insuficiência hepática. Até a doença chegar ao estágio avançado, o indivíduo não apresenta sintomas. Por isso, a necessidade de fazer os testes para hepatites”, alertou Arruda.
Na pessoa com HIV, explicou o médico, a hepatite C é mais grave, pois a progressão da doença acontece de forma muito mais rápida. “Leva, em média, dez anos para que a inflamação no fígado evolua para uma cirrose”, continuou.
Evolução dos medicamentos
Segundo o presidente da SBI, há 25 anos os efeitos e a infecção da hepatite C são conhecidos, mas demorou muito para que a doença fosse descoberta. “Sabíamos que ela não se caracterizava como hepatite A, nem B, mas demoramos para chegar à denominação do vírus C. Vinte anos se passaram desde o início da utilização do medicamento interferon convencional até chegarmos aos inibidores de protease de primeira geração, para o tratamento hepatite C. A partir daí, levamos três anos até os medicamentos de última geração atuais, que são o sofosbuvir e o daclatasvir, além de outras drogas de composição combinada. Isso melhorou a eficiência e a tolerância ao tratamento. Em três anos, fizemos o que não conseguimos em 20”, observou Arruda.
Ao falar dos novos medicamentos — sofosbuvir, declatasvir e simeprevir — que serão utilizados pelo SUS (Sistema único de Saúde), até dezembro deste ano, segundo o governo anunciou nesta semana, Arruda se mostrou otimista. “Hoje, a pessoa infectada com o tipo mais comum da hepatite C, chamada de genótipo 1, conta com uma chance de cura em torno de 95% com os esses novos compostos.”
A eficácia desses novos medicamentos é um pouco menor nos portadores de HIV, segundo Arruda. “Em alguns soropositivos, observamos que o tratamento leva um pouco mais de tempo. Porém, o resultado, no fim, é igual tanto para quem tem HIV como para quem não tem.”
Os portadores de HIV coinfectados pela hepatite C fazem parte do grupo de pessoas que precisam de uma atenção maior, também por conta das interações medicamentosas, como aumento de reações adversas. “Nesse cenário, o infectologista é de extrema importância para melhor guiar o tratamento da hepatite C na pessoa com o HIV.”
O medicamento simeprevir, explicou Arruda, tem mais interações medicamentosas com os antirretrovirais, então, a tendência é evitá-lo em pessoas com HIV que estão em tratamento. “Mas, dependendo da combinação de antirretrovirais, o paciente reage bem ao simeprevir.”
O vírus B
Muitos dos pacientes em tratamento de HIV, nas combinações dos antirretrovirais, fazem uso do tenofovir e da lamivudina. Essas são as mesmas drogas usadas para tratar a hepatite B. “Isso facilita muito, porque se esses medicamentos fazem parte da combinação dos antirretrovirais, o paciente já está em tratamento do vírus da hepatite B. Mas temos outras estratégias mais efetivas para proteger a pessoa da hepatite B, que é a vacina. No caso da hepatite B, não precisamos esperar a infecção, podemos vacinar antes, diferente da C, que não tem vacina.”, disse Arruda.
A hepatite C no mundo
Ainda segundo o presidente da SBI, pesquisas mostram que hoje temos 170 milhões de pessoas infectadas pela hepatite C no mundo. Destas, morrem 500 mil pessoas por ano, sendo 300 mil por situações de falência hepática e 200 mil por casos de câncer de fígado ou carcinoma. No Brasil, são 2 milhões de casos crônicos de hepatite C, em que a população mais acometida são os indivíduos de 40 a 70 anos, mas apenas 570 mil pessoas foram diagnosticadas. Por ano, surgem 65 mil novos casos e apenas 10 mil são diagnosticados. De todas as pessoas que conhecem seu diagnóstico, anualmente, 10 mil pessoas são tratadas.
“Assim como temos notado o aumento no número dos diagnósticos e tratamentos em pessoas com HIV, esperamos um aumento também do diagnóstico das hepatites. Melhorar o diagnóstico para os portadores de hepatite C é o primeiro passo para alcançar a cura dos que estão infectados e alcançar o controle da epidemia no mundo” concluiu Arruda.