As 12 organizações que integram a Rede de Filantropia para a Justiça Social são fundos de justiça social, fundos comunitários e fundações comunitárias, organizações doadoras, que apoiam a sociedade civil no Brasil (OSCs, ONGs, movimentos, grupos, coletivos, redes, lideranças, defensores/as de direitos etc.). Doam para iniciativas no campo dos direitos humanos, da justiça social e do desenvolvimento comunitário e foram criadas ao longo dos anos 2000 perante a redução de recursos da filantropia e da cooperação internacional para dar resposta ao vácuo do financiamento gerado no âmbito da sociedade civil, consequência desse processo de retirada.
De acordo com levantamentos anuais realizados pela Rede, as organizações membro doaram de forma direta (através de repasse de recursos) um total de R$ 197.129.770,71 (desde a sua criação até o ano de 2018) para o fortalecimento da sociedade civil e, portanto, da democracia brasileira.
Os dados do infográfico indicam que as doações indiretas – isto é recursos destinados para realização de atividades como encontros, seminários, debates, formações, – também é significativa já que no ano de 2018, o montante total de recursos doados pelos associados da Rede foi de R$ 64,9 milhões, sendo que 46% desse total foram doações indiretas e 54% diretas.
Além de fazer doações para a sociedade civil (através de editais, cartas convite e/ou da doação direta), as organizações da Rede mobilizam recursos através de diversas fontes: com instituições filantrópicas internacionais e nacionais; pessoas físicas; empresas; poder público; cooperação internacional etc. Dessa forma, a mobilização de recursos junto às organizações filantrópicas deve ser concebida como uma parceria entre financiadores de natureza distinta, já que os fundos e fundações comunitárias têm um conhecimento profundo das agendas locais (e também das internacionais) e a capacidade de capilarizar a distribuição de recursos, fazendo-os chegar a organizações de base que atuam em diversas áreas (no campo da justiça social e comunitária) e em múltiplas regiões do país, com públicos diferenciados.
São organizações que:
- Tem uma forte articulação e conhecimento da sociedade civil brasileira e sobre o campo de atuação, e das necessidades e demandas das suas redes
- Monitoram e avaliam as iniciativas apoiadas.
- Produzem conhecimentos e investem em ações de desenvolvimento de capacidades para o fortalecimento institucional e a sustentabilidade (política e financeira) de organizações e grupos de base.
Ao mesmo tempo, demonstram capacidade de reagir de forma rápida frente aos diversos cenários, atendendo às múltiplas demandas da sociedade civil.
No contexto da pandemia, todas elas atuaram de forma muito ágil, articulando parcerias para o desenvolvimento de diversas iniciativas de enfrentamento da Covid-19, principalmente em três frentes estratégicas: a) criação de fundos e de doações emergenciais; b) comunicação e produção de conhecimentos e c) mobilização local e campanhas de doação.
Ao longo de 2020, no contexto da pandemia, as organizações da Rede já doaram de forma direta um montante de R$ 9.317.124,84 para quase 1000 iniciativas da sociedade civil. As doações indiretas (cestas básicas, kit higiene e ajuda humanitária, de forma geral) somam aproximadamente 2,9 milhões de reais, totalizando 12,3 milhões de reais doados.
O grande diferencial aqui é a capacidade de fazer apoios para iniciativas da sociedade civil de forma ágil e assertiva, ainda que o montante das doações não seja comparável ao volume de recursos mobilizados pelas grandes fortunas, empresas e/ou filantropos/as brasileiros/as que, de acordo com o monitor das doações da ABCR, está na casa dos 6 bilhões de reais.
Fazer com que esses recursos cheguem rapidamente nas bases, nas comunidades, nos atores estratégicos que atuam no enfretamento da Covid 19 é de uma grande potência transformadora, para além de reconhecer sua expertise instalada na mobilização de recursos. E, certamente, esses recursos têm efeito multiplicador relevante na medida em podem alavancar e potencializar outras iniciativas de mobilização de recursos com atores estratégicos locais (campanhas de doação comunitária, por exemplo).
Esse caminho também amplia as possibilidades de contar com o protagonismo e o poder de decisão das comunidades na mobilização e investimento de recursos locais em áreas e iniciativas consideradas prioritárias, fortalecendo a autonomia da sociedade civil e dando espaço para a criação de dinâmicas inovadoras no campo da filantropia comunitária.
Artigo de Graciela Hopstein, coordenadora executiva da Rede de Filantropia para a Justiça Social.