Jeová Pessin Fragoso*
Esse ano tem sido emblemático para a questão das hepatites virais, principalmente para a do tipo C. Concordamos com o ministro da Saúde, Arthur Chioro, quando ele disse que 2015 seria um divisor de águas no enfrentamento dessa séria questão de saúde pública.
A ciência descobriu medicamentos que são eficazes e, por não apresentarem reações adversas importantes, encurtam o tempo de tratamento, facilitando assim uma melhor a adesão ao tratamento e nos permitindo sonhar com a eliminação do HCV (vírus da hepatite C) a partir de 2030. Os 60% dos portadores que “suportaram” dois e até mais tratamentos, mas que estão no rol da maioria que não obteve êxito, já começam a sonhar, ficar impacientes, e mais do que nunca, muito esperançosos em alcançar a cura. Ao lado deles outros que até então nem eram tratados, ou por contraindicações ou ineficácia ao seu caso, que são os co-infectados com HIV e transplantados de órgãos sólidos.
Por sua vez o Ministério da Saúde, através do Departamento de DST, Aids e Hepatites, da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) , da Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS) e outros setores envolvidos esforçaram-se na redução de preços junto aos fabricantes e assim conseguiram viabilizar economicamente a compra inicial que estima o tratamento para 15 a 30 mil portadores da doença, entre esses muitos que não conseguiram a cura com os tratamentos até então.
Com a compra centralizada pelo MS e a distribuição de responsabilidade dos estados, o paciente terá acesso ao tratamento nos serviços especializados de seu município.
Ótimo! Perfeito!… Será?
Sim deve ou ao menos deveria ser, pois SUS preconiza e a gestão deve cumprir esse papel com presteza e eficiência, seja de qualquer esfera for a atribuição nessa linha de cuidados. União, estados e municípios precisam estar sincronizados.
O controle social deve estar atento ao funcionamento do fluxo dessa atenção. Associação de pacientes, conselhos de saúde e outros segmentos da sociedade tem o dever de postular, opinar e se for o caso, o dever de reivindicar celeridade, e o mínimo de burocracia para que o acesso ao tratamento preconizado pelo PCDT (Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas).
Desde 2010, a OMS (Organização Mundial da Saúde) denominou o dia 28 de julho como o Dia Mundial de Luta Contra as Hepatites Virais. E, nesse ano, por iniciativa do Movimento Brasileiro de Luta contra as Hepatites Virais, fomentou-se julho como o mês de apologia às hepatites virais. Várias ações foram planejadas e executadas nesse período, tendo até se transformado em Lei Municipal em Santos, litoral Sul de São Paulo.
Dentro do mês, várias ações foram desenvolvidas por serviços públicos de Saúde e pelas ONGs de todo o país. Materiais informativos, cursos, seminários, caminhadas, testagem rápida em unidades de atenção básica e outros locais, missas, vigílias, encenação teatral, entre outras foram atividades intensificadas por todo o país.
A instalação de uma Frente Parlamentar Mista de Combate às Hepatites Virais (deputados e senadores) também aconteceu no dia 14, além de no dia 27, juntamente com o já citado lançamento do PCDT foi apresentado por Fabio Mesquita — Diretor do Departamento de DST. Aids e Hepatites, que estimam que 1,4 milhões de brasileiros tem hepatite C.
Por isso então essa onda “amarela” não pode passar, justamente porque é raro as Hepatites B e C deixarem a pessoa com a cor amarelada, e o exame de detecção que embora simples não está incluído no Hemograma, e raros são os médicos de outras patologias ou generalistas que o solicitam como rotina.
Agora que a ciência desenvolveu medicamentos eficazes e o SUS os disponibilizará, é necessário que os 80% dos 1,4 milhões das pessoas que estão infectadas pelo HCV e não sabem dessa sua condição, sejam identificadas.
Essa primeira e exitosa edição “Julho Amarelo” deverá motivar gestores da saúde pública a manterem o foco nesse agravo que passou a ser prioridade de governo, e assim estimularem e criarem estratégias para a ampliação da testagem sorológica.
Essas ações que visam a detecção deverão ser implementadas de uma forma segura para que a oferta seja sustentada durante todo o ano e não somente nos Centros de Testagem e Aconselhamento – CTA, mas sim cada vez mais nas unidades básicas de saúde, obviamente amparada por profissionais qualificados e serviços de referencia na especialidade. Pactuação das três esferas é imprescindível para promover a saúde da população frente a essa grave e incidente enfermidade.
Julho a julho, ou seja, ano inteiro contra as Hepatites Virais!!!
* Jeová Pessin Fragoso é diretor presidente do Grupo Esperança, de apoio aos portadores do vírus da Hepatite C da Baixada Santista.