Projeto acolhe a população LGBTQIA+ afetada pela crise climática e oferece oficinas de corte e costura, culinária e ensino da língua yorubá para geração de renda e inclusão social.
Por: Alexandre Putti
No Rio Grande do Sul, a crise climática deixou milhares de pessoas em situação de vulnerabilidade, especialmente a população LGBTQIA+, que enfrentou dificuldades de acolhimento nos abrigos emergenciais. Diante desse cenário, o projeto Cultura Africana para o Empreendedorismo LGBTQIA+ surgiu como uma resposta urgente e necessária, levando capacitação profissional e fortalecimento cultural para quem mais precisa.
Com o apoio do Fundo Positivo e do Instituto Renner, a iniciativa promove oficinas de culinária e corte e costura de moda africana, além do ensino da língua yorubá, oferecendo oportunidades reais de geração de renda e inclusão social. O Instituto Renner é uma organização dedicada a fomentar o empreendedorismo e a inclusão produtiva de grupos em situação de vulnerabilidade, fortalecendo iniciativas voltadas para a autonomia econômica e o desenvolvimento social. A parceria com o Fundo Positivo foi essencial para a viabilização do projeto, garantindo que a ação pudesse alcançar um número maior de pessoas e oferecer suporte de qualidade.
Acolhimento e capacitação em tempos de crise


O projeto é conduzido pelo terreiro IJOBA ASE OSUN OLOMI WURA, liderado por Julie Viana, uma mulher transexual com uma trajetória marcada tanto pela aceitação quanto pelo preconceito dentro dos espaços religiosos. “Nós, como povo de terreiro, temos a obrigação de acolher pessoas. Sempre vi a importância de incluir a comunidade LGBTQIA+ no lugar de culto, garantindo pertencimento e respeito”, afirma Julie.
A acolhida no terreiro foi essencial para muitas pessoas LGBTQIA+ que ficaram desabrigadas após as enchentes. A partir da iniciativa, elas puderam não apenas encontrar apoio emocional e comunitário, mas também se preparar para o mercado de trabalho. As oficinas de corte e costura, por exemplo, foram estruturadas para oferecer uma formação prática e eficiente, capacitando profissionais para uma nova perspectiva de autonomia financeira.
Cultura como ferramenta de empoderamento
O projeto se destaca não apenas pela qualificação profissional, mas também pelo resgate e fortalecimento da cultura africana. As aulas de culinária ensinam pratos típicos, promovendo a conexão com as raízes ancestrais, enquanto o ensino da língua yorubá contribui para desmistificar tabus religiosos e culturais. “A religião afro-brasileira sempre foi um espaço de acolhimento para a comunidade LGBTQIA+, e buscamos reforçar esse papel trazendo conhecimento e esclarecendo conceitos muitas vezes distorcidos”, explica Julie.
Os participantes, cada um com suas histórias e desafios, encontram na iniciativa um espaço de aprendizado e pertencimento. Julie conta que a primeira turma criou laços tão fortes que organizaram uma comemoração na última aula. “Estou muito feliz com o retorno das pessoas. Elas estão empolgadas, se dedicando ao curso, e criaram uma rede de apoio que vai além da sala de aula”, compartilha.
Apoio do Fundo Positivo e do Instituto Renner amplia o impacto
O Fundo Positivo e o Instituto Renner desempenham um papel fundamental na viabilização do projeto, garantindo recursos para ampliar as atividades e oferecer melhores condições aos participantes. Julie destaca que, antes desse apoio, o projeto já existia com verba privada, mas era restrito. “Com essa parceria, conseguimos expandir nossas ações, trazer mais profissionais e proporcionar um ensino de qualidade que realmente prepara as pessoas para o mercado de trabalho”, afirma.
A colaboração entre as instituições permitiu não apenas o fortalecimento do projeto, mas também a criação de estratégias para combater a desinformação sobre a cultura afro-brasileira e a identidade LGBTQIA+. As oficinas, além de capacitarem novos profissionais, atuam diretamente na promoção da diversidade e do respeito, rompendo barreiras sociais e econômicas.


Sustentabilidade e continuidade


O sucesso da iniciativa gerou uma demanda crescente, com listas de espera para novas turmas. Muitas pessoas chegaram até o projeto por meio de redes sociais e associações que divulgaram as atividades, mostrando a necessidade de ampliar o alcance da proposta. “O retorno tem sido muito positivo. Precisamos organizar melhor o fluxo de inscrições e estamos planejando novas turmas e outras oficinas”, explica Julie.
A continuidade do projeto depende, sobretudo, da captação de recursos para manter professores e expandir as atividades. A expectativa é que a iniciativa ganhe ainda mais visibilidade e apoio, possibilitando a formação de novos grupos e a criação de uma segunda etapa dos cursos já oferecidos.
O Fundo Positivo e o Instituto Renner seguem comprometidos em apoiar projetos que promovam saúde, educação e inclusão social para a população LGBTQIA+. Iniciativas como essa mostram que cultura e empreendedorismo podem caminhar juntos, proporcionando não apenas capacitação profissional, mas também dignidade e reconhecimento para quem historicamente enfrenta barreiras no acesso ao trabalho e à cidadania.