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Sexo entre mulheres e ISTs: como prevenir?

Dr. Emmanuel Nasser, especialista em saúde da população LGBTQIA+, explica desafios para evitar contaminações

Há um mito recorrente de que o sexo entre mulheres – ou, de forma como deveríamos chamar, entre pessoas que têm vulva e vagina –  não permite a propagação de Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs). Estudos recentes, no entanto, comprovam que nas relações em que há contato da vulva com outra vulva (vulva é a parte externa da genitália), com boca, brinquedos sexuais ou dedos podem sim transmitir bactérias e vírus causadores de doenças. O desafio, contudo, é encontrar métodos preventivos que sejam práticos e ao mesmo eficientes.

Nas relações que envolvem pênis, a camisinha externa (popularmente conhecida como “masculina” – precisamos, inclusive rever esses conceitos) é a mais comum justamente porque a própria anatomia do órgão sexual e do preservativo permitem que o sexo seja prático, seguro e prazeroso. A camisinha interna (aquela introduzida dentro da vagina) nas relações entre pênis e vulva, também oferece o mesmo grau de segurança e praticidade. Entretanto, quando o sexo é entre mulheres, as soluções nem sempre são confortáveis e óbvias.

Na posição da tesourinha, por exemplo, não há nenhum método que seja prático, eficiente e prazeroso. No sexo oral, é possível criar uma camada protetora utilizando um pedaço de camisinha cortado ou de dental damm, uma folha de látex geralmente usada por dentistas. Algumas mulheres optam pelo uso de papel filme, mas não há estudos que comprovem eficiência desse método. Mas, de novo, a solução não é atrativa e muitas mulheres não a utilizam.

Entretanto, o uso de preservativos é importante, assim como a constante avaliação médica. Apesar das taxas de transmissão de HIV e Hepatites B e C sejas baixas, a contaminação ainda é possível especialmente quando há comportamentos de risco, como sexo envolvendo consumo de drogas e álcool, uma vez que as substâncias inibem hábitos de prevenção e, talvez, de autopreservação.

No sexo oral, quando há contato da boca com a vulva, é importante que haja algum preservativo, seja o pedaço de camisinha ou dental damm, para evitar contaminação pela mucosa da boca e as secreções vaginais. O ideal é não escovar os dentes por algumas horas antes da relação, pois a escovação pode causar feridas que aumentam os riscos de contaminação. Sem proteção, a relação pode causar clamídia, gonorréia, HPV, herpes, sífilis, HIV e tricomoníase.

Quando há contato entre vulvas, contudo, o jeito mais seguro é fazer exames frequentemente. A troca de fluidos pode causar HPV, herpes, sífilis, lesões cancróides, clamídia, gonorréia, HIV e verrugas genitais. Quando a relação envolve dedos ou brinquedos sexuais, o ideal é envolvê-los com preservativos como camisinhas externas (as mesmas utilizadas para pênis) e higienizá-los com álcool em gel antes de introduzi-los na vagina, trocando os preservativos sempre que outra pessoas  for utilizá-lo.

Os métodos preventivos ainda precisam evoluir para de fato oferecerem a melhor experiência no sexo entre pessoas com vulva. É importante que cada uma, na sua rotina, adote as melhores práticas e busque sua própria proteção. Dispa-se  dos tabus e converse com seu médico de confiança . É assim que se conseguirá uma vida sexual mais plena, com saúde e liberdade.

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